Exaltação da Santa Cruz

Neste Domingo, celebra-se a festa da Exaltação da Santa Cruz. O Evangelho relata o encontro de Nosso Senhor com Nicodemos, no qual Ele anuncia: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”. A comparação de Jesus se relaciona com outra afirmação sua, contida no mesmo Evangelho de São João: “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”.

Mas, como é possível que Cristo crucificado, “de quem a gente desvia o olhar”, atraia todos a Si, cumprindo a profecia de Zacarias: “Olharão para Aquele que transpassaram”?

É assim porque a Cruz é um mistério de amor. De fato, ao celebrar a Exaltação da Santa Cruz, não se está exaltando o crime do homicídio de Cristo, nem a Sua dor, mas a vitória do amor de Deus, proclamada na famosa sentença também do Evangelho de hoje: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”.

Se hoje se percebe uma tendência de falar de Cristo crucificado como um homem abandonado por Deus, não se deve perder de vista que, muito mais que isso, a Cruz é o drama de Deus abandonado pelos homens. Infelizmente, as pessoas esquecem-se da divindade de Nosso Senhor, esquecem-se de que unus ex Trinitate passus est pro nobis: uma Pessoa realmente divina, impassível, esvaziou-Se e fez-Se homem, a fim de nos amar.

Esse amor de Cristo é renovado em cada sacrifício da Santa Missa. Importa explicar bem as coisas: o sacrifício de Nosso Senhor aconteceu uma vez por todas no Calvário, mas é renovado em cada celebração da Missa sacramentalmente, isto é, na separação do pão e do vinho para a consagração. Substancialmente, todavia, trata-se do mesmo sacrifício, pois uma só é a vítima e um só o sacerdote que Se oferece: Jesus Cristo. “Com efeito, uma só e mesma é a vítima, pois quem agora se oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que então se ofereceu na cruz; só o modo de oferecer é diferente”. Ainda que o modo de oferecer seja incruento e sacramental, após a consagração, estão realmente presentes debaixo das espécies eucarísticas o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor.

Em cada Missa, portanto, é celebrada a exaltação da Santa Cruz. Quando o sacerdote eleva a hóstia e o cálice, após a consagração, Nosso Senhor está sendo novamente elevado e atraindo todos a Si, e a profecia está novamente se cumprindo: “Olharão para Aquele que transpassaram”.

Por isso, é importante que todos os fiéis tenham uma devoção especial pelo momento da consagração, que é, sem dúvida, o mais importante da Missa. Quando o sacerdote visível diz: Isto é o meu Corpo e Este é o cálice do meu Sangue, ele empresta suas palavras ao sacerdote invisível, Jesus, que oferece perpetuamente o Seu ato de amor a Deus pela salvação dos homens, na ação eucarística.

Olhando para a Cruz, realmente somos curados em nossa capacidade de amar. Quando o Papa Bento XVI, em sua “reforma da reforma”, começou a celebrar a Santa Missa com o crucifixo no centro do altar, algumas pessoas sugeriram que a Cruz poderia “atrapalhar” a visão do celebrante. Na verdade, a visão de Cristo crucificado recorda ao sacerdote que ele se dirige não ao povo, mas a Deus; coloca diante dele o vínculo indissociável entre a Cruz e a Sagrada Eucaristia. Como diz o belo hino Adoro te devote, composto por Santo Tomás de Aquino, “na cruz estava oculta somente a tua divindade, mas aqui [na Eucaristia] se esconde também a humanidade.”

fonte: Padre Paulo Ricardo
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