A felicidade existe?

Tem direção para seguir a felicidade?
Talvez a pergunta do título de nossa reflexão de hoje lhe tenha causado estranheza, talvez espanto ou desconforto, ou quem sabe, ainda, nada tenha lhe causado. De fato é uma pergunta simples e complexa, ao mesmo tempo, se observada de aspectos diferentes. Para o desiludido com a vida, com o mundo e com as pessoas a pergunta gera tristeza, pois este não consegue ver a possibilidade de resposta positiva. Para o esperançoso a resposta desperta certo sorriso e curiosidade em ler o texto que segue, na busca da confirmação da resposta já sedimentada e talvez não bem formulada no íntimo de seu ser. Para outros ainda a pergunta gera um misto dos dois, nestes a busca é constante e quem sabe esteja acompanhada de desencontros que não estejam permitindo que a felicidade plena possa ser vivenciada. De fato uma pergunta simples pode de repente tornar-se extremamente complexa, mas não se preocupe, pois esta pergunta vem sendo feita por filósofos há muito tempo e uma resposta exata ainda não foi dada, perceba que não estamos sozinhos nesta busca por respostas. 

Um dos primeiros a tematizar a felicidade em suas reflexões foi nada mais, nada a menos
do que o filósofo Aristóteles.  Certamente você já ouviu falar neste nome em algum lugar. Pois bem, para ele a felicidade (Eudaimonia) é o fim último de todos os homens e de todas as ações que desenvolvemos. Para atingir a felicidade, Aristóteles aponta dois caminhos: um mais seguro e outro mais tortuoso. O mais seguro é a busca de uma vida serena e contemplativa, justa e equilibrada onde o homem busca o meio termo em todas as ações que desenvolve, não caindo nem nos excessos nem nas faltas. Vive de modo equilibrado. A segunda é por meio da busca por prazeres instáveis como o dinheiro, o poder e os prazeres da bebida e do sexo em demasia. Ambos caminhos conduzem o homem à felicidade, porém para uns ela permanece e para outros ela desaparece com facilidade. Obviamente não elencamos aqui tudo o que o filósofo aborda, nem exatamente do modo por ele abordado, mas só uma parte para compreendermos melhor o que ele pensava. Percebemos que desde os mais remotos tempos o homem busca a felicidade de diversos modos, e o que é felicidade para um não necessariamente é felicidade para o outro. Percebemos igualmente que, desde os primórdios, há um caminho mais seguro e um caminho mais instável para se chegar na tão almejada felicidade. De fato a felicidade baseada em bens passageiros é passageira tanto quanto os bens que a trazem e a felicidade baseada em bens estáveis é estável quanto os bens que a trazem. Desse modo cabe ao indivíduo decidir se quer uma felicidade passageira ou se quer uma felicidade constante e duradoura.

Pensando bem sobre a felicidade e buscando embasamento para minhas compreensões creio que a humanidade carece sim de felicidade no melhor estilo aristotélico, isto é, estável e eterna e que estamos, enquanto sociedade, longe de consegui-la, pois, em algum momento, nos perdemos no caminho e deixamos que bens não tão necessários tomassem o lugar do que é fundamental em nossa vida, assim estamos confiando nossa felicidade em coisa passageiras e nos utilizando do que passa para sedimentar o que não passa. Valores como a família, os verdadeiros amigos, a religião, a espiritualidade, estão cada vez mais instáveis, entraram na lógica do consumo e da satisfação momentânea. Assim tornamos o que era eterno em algo passageiro, retiramos o valor que esses bens têm em si para colocarmos os valores que o mercado determinou. Mas o mercado é um simples gerador de novas necessidades não necessárias e torna obsolescente os bens duráveis gerando em nós a ideia de que nada mais é eterno e de que será assim sempre. De que não necessitamos de coisas básicas para sermos felizes, mas de coisas compráveis, como uma roupa ou uma tecnologia.


Tenho a impressão de que a felicidade existe sim e que o que ocorre é que estamos buscando ela para frente de nossos dias enquanto deveríamos rebusca-la onde deixamos que coisas superficiais e passageiras tomassem o lugar do eterno e durável em nossa vida. Rebuscar valores perdidos, amigos esquecidos, família deixada de lado em nome de falsas promessas, religião desacreditada por visões deturpadas e falta de conhecimento de nossa parte, rebuscar a espiritualidade que nos traz a esperança. Reencontrar Deus do nosso modo, mas da forma como ele se apresenta não da forma que a mídia ou os oportunistas querem mostrá-lo. Enfim, a felicidade existe sim e não usa maquiagens, se mostra como é. Cabe a mim e a você decidirmos por ela e pelo caminho que trilharemos para encontrá-la. Se fosse possível uma dica eu diria “não confie o que é eterno naquilo que é passageiro”. Seja feliz de modo simples e que sua felicidade se torne eterna.

Altemir Schwarz
Educador - Filosofia e Ensino Religioso
Proxima
« Anterior
Anterior
Proxima »
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário