Entre o dizer e o dito

A linguagem nos permite comunicar ao mundo
A linguagem em suas diversas manifestações – escrita, falada, corporal, etc. - exerce uma função na vida do ser humano que por vezes é banalizada pelo uso e desuso. Quando muito dita a palavra corre o risco de não mais comunicar aquilo para o qual fora proferida, não mais tocar, quando pouco dita a palavra traz o risco de nada mais significar, caindo em desuso. A palavra dá sentido e significado ao mundo que nos cerca. É a partir da palavra, do nomear, que o homem vai tomando posse dos objetos, do ambiente onde se encontra. Quando não podemos descrever algo sentimos certo receio, o desconhecido torna-se conhecido a partir do momento que o descrevemos e daquilo tomamos posse, mesmo que em um plano meramente teórico. Podemos aqui recorrer à teoria da “cura” através da fala elaborada por Freud, como recurso explicativo ao que estamos apresentando, quando nomeamos aquilo que nos acontecera, (nossos medos, traumas e, também, alegrias) tomamos posse daquilo, damos sentido e significado, sedimentamos as experiências e resolvemos nossos conflitos.

É a partir da linguagem que comunicamos aquilo que somos ao mundo, que expomos o que de mais interior temos – os pensamentos. Recorrendo à Lévinas, percebemos que é a partir da fala que oferecemos o mundo ao outro, um mundo de sentido e significado, com abertura ao infinito que se manifesta no rosto como linguagem, mas neste não se limita. Aquilo que em nós é assimilado, processado, resinificado, compartilhado e após exposto aos demais o é feito a partir da linguagem, em suma, o homem é um ser de linguagem, dela se usa e necessita para poder ser no mundo e dar sentido ao seu ser no mundo.

Há entre esses dois movimentos, o dizer e o dito, algo que, na minha compreensão, dá sentido e significado àquilo que está sendo comunicado. Há algo implícito que, porém, se torna explicito sem o sê-lo. algo dito sem dizer, entendido sem entender, compreendido sem apreender. Aquilo que dá vida as palavras e tira delas toda a frieza, que torna a comunicação mais do que um ato vazio e meramente instrumentalizado, mais do que um uso de sinais gráficos, mais do que meras expressões, algo que torna o comunicar uma ação humana capaz de unir e produzir sentimentos. Algo que subsiste no tempo e não está no espaço e que faz, por exemplo, uma poesia tocar mesmo após o poeta ter morrido. Há um espaço vazio a ser preenchido entre o dizer e o dito, este é o lugar do sentido e do significado e que cada um ao se comunicar deve preencher a seu modo. As palavras trazem consigo a sina de dizer aquilo que foi dito, mas o sentido disso tudo é elaborado por aquele que recebe a comunicação, que se põe em interlocução com o mundo. Somos corresponsáveis pelos encontros e desencontros que a linguagem proporciona e seres capazes de dar sentido àquilo que fora dito.

Qual o sentido da linguagem...?


O que eu disse mesmo, nessa sequência de dizeres ditos...?

Altemir Schwarz
Educador - Filosofia e Ensino Religioso

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