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Somos seres iguais e diferentes |
Não sei qual sua crença, se é que
tens uma, mas nesses momentos de extrema crise da minha própria
razão me deparo
com minha pequenez e é nela que encontro a resposta às minhas profundas, tão
profundas que soam irrelevantes e surreais, crises do existir. Pequenez - essa
talvez seja a chave de leitura aos dilemas do homem. Nascemos pequenos e
dependentes. Os únicos animais absolutamente dependentes dos progenitores, em
especial da mãe. Não há a mínima possibilidade de sobrevivermos um dia se quer
longe de uma mãe, quer ela seja biológica, quer seja adotiva. Somos seres, por
excelência, de carência e esta que parece ser nossa limitação é justamente o
que nos transforma nos seres com maior potencial de toda a natureza. Este é o
sentido novo que a antropologia filosófica nos apresenta a partir do séc. XIX e
que muda toda a nossa compreensão de quem somos – seres de carência –
necessitados da compreensão dos próprios limites. Necessitados de amor,
cuidado, afeto e sentido. O que mais nos torna humanos se não essas
necessidades? O que nos identifica como espécie se não nossa dependência de
coisas abstratas que se materializam para após, novamente, ficarem abstratas,
como o amor que inicia em um conceito, se materializa em gestos para,
novamente, se tornar conceito?
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Somos os mais dependentes de nossos progenitores, em especial da mãe. |
Se é isso que me difere e me
iguala, por que ainda não consigo, muitas vezes, enquanto pessoa e enquanto
humanidade, olhar ao outro com afeto? Tornei-me eu tão frio e preocupado em
suprir minhas carências que esqueci que sou também responsável por suprir a de
outros? Parei para pensar e percebi que há em mim o desejo do cuidado, percebi
quando, ao passear no shopping com a pequena Emanuella, minha afilhadinha de um
ano e meio, encontrei o sentido dado pela antropologia filosófica à este ser de
carência que esqueceu que um dia fora pequeno e totalmente dependente e
tornou-se esquecido do real sentido do existir, de dar sentido ao próprio
existir. E onde entra a crença? Aquela que me alertou disso é o que na tradição
judaica sempre subsistiu, a personificação feminina de Deus, que por ironia do
caminhar ou minha busca por sentido, hoje leva o nome de Emanuella – Deus
conosco – e foi no ser carente dessa criaturinha adorável que percebi meu ser
carente e transcendente. Na perspectiva do cuidado e do zelo por uma criança
pude perceber que o que me faz humano, e nada mais parece fazer-me, é o afeto
necessitado e desprendido, realizado e vivido, externalizado e sentido. Espero
poder eu aprender a cuidar da vida a partir da própria vida.
Altemir Schwarz
Educador - Filosofia e Ensino Religioso
1 comentários:
Clique aqui para comentáriosAhh! Gostei do espaço de filosofia! E também da reflexão! Num tempo em que muitas das nossas relações humanas são selvagens, saber e sentir na pele o que nos faz mais humanos é uma graça!