Condenados a sermos livres

Em minhas últimas leituras me pus a pensar se ao nascer o homem está completo, se quando viemos ao mundo já estamos prontos para encarar a jornada da vida. Se a resposta for sim, caímos em uma questão muito complexa e difícil de ser sustentada, ao meu ver, pois, se já nascemos prontos ou completos, como preferirem, porque cometemos tantos erros até chegar ao acerto? Porque mesmo sabendo o que deve ser feito ainda assim não conseguimos? Porque precisamos de pessoas ao nosso redor, família, amigos, sociedade para que nos ensinem a viver, mais do que isso, para nos amarem? Se a resposta for não, surge outra questão igualmente complexa, o que então nos torna humanos, o que nos torna completos, ou prontos, para encarar a jornada da vida? 

O que nos faz sabermos que o caminho tomado é errado e nos impulsiona a voltar atrás? O que nos faz escolher ter família, e que família queremos constituir? O que nos leva a interagir em sociedade e construir comunidades de pertencimento? Enfim, temos uma natureza humana ou não?

Todas as perguntas supracitadas como início de reflexão perpassam a filosofia de um grande existencialista, Jean-Paul Sartre, que nos apresenta uma condição humana e não uma natureza humana, e tal condição se dá a partir da liberdade. Para ele somos condenados a ser livres e escolher o tempo todo, e nossas escolhas vão formando quem somos, a única coisa que não é possível ao homem é não escolher. Nas palavras do autor “o existencialista diz que o covarde se faz covarde, e o herói se faz herói” a partir das escolhas que faz, ninguém nasce herói ou covarde, mas escolhe ser assim. Ninguém tem um caminho predeterminado, um destino a ser cumprido do qual não podemos nos desviar, somos frutos de nossas escolhas e os grandes responsáveis por elas.

Dessa forma cabe ao indivíduo, em sua subjetividade, constituir-se aquilo que quer se tornar e, mesmo que algumas condições sejam desfavoráveis, como por exemplo uma família desestruturada ou uma situação social desfavorável ou conflitiva, ainda assim o indivíduo pode e está se constituindo a partir de sua liberdade. Não há culpados a quem acusar, não há contexto histórico social a quem recorrer, há uma liberdade a ser posta em prática e uma eterna condenação à escolher aquilo que queremos ser, recorrendo novamente ao autor “antes de começamos a viver, a vida, em si, não é nada, mas nos cabe dar-lhe sentido, e o valor da vida não é outra coisa senão este sentido que escolhemos.”

Assim, para concluir, gostaria que na nossa última reflexão do ano de 2014 todos nós pudéssemos aprender algo com o existencialismo para bem iniciar o ano de 2015. Deixemos tudo o que nossas escolhas trouxeram de menos positivo para traz, aprendamos a romper com aquilo ou aqueles que não trazem sentido para nossa vida e optar pelo amor, por tudo aquilo de bom que possa ser vivido. Deixemos para traz lembranças, fatos, mágoas ressentimentos, façamos uma formatação em nossa vida excluindo tudo o que nos fere, e fere a outros, e sigamos com novos projetos e novas escolhas. Vamos fazer como na citação sartreana acima, dar sentido à vida, existir plenamente e valorizar a cada momento de nosso existir plenamente humano, por isso livre e por isso passível de falhas. Tenhamos todos um ótimo final de ano com quem amamos e que 2015 venha cheio de bênçãos e coisas positivas. Que nossas escolhas nos conduzam à mais vários encontros e diálogos filosóficos nesse blog. Obrigado a todos os que leem os textos, e a edição que sempre paciente colabora com as artes desse espaço. Feliz 2015.

Altemir Schwarz
Educador - Filosofia e Ensino Religioso
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