Penso ser importante partir na
presente reflexão do que compreendo constituir o eu de cada um. Tentarei fazer
a partir do viés da relação, sem pretensões de descrever o ser de cada
indivíduo, ou o que a filosofia chama de ontologia, somente refletir sobre as
relações e as visões que ela produz. Parto da pergunta: quem sou eu? E, de
pronto, respondo: eu sou o que penso de
mim, eu sou o que mostro de mim e aquilo que os outros percebem de mim.
Serei eu então três pessoas em uma só? Vivo desse modo um complexo de tripla
personalidade? Calma, explicarei minha compreensão do modo mais claro possível.
Eu sou o que penso de mim: minha visão sobre mim mesmo é
fundamental para minha constituição
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Inscrição em grego que significa: "Conhece-te a ti mesmo" |
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Eu sou o que mostro de mim |
Eu sou o que mostro de mim: a partir de minha visão sobre mim mesmo
irei agir, com base naquilo que julgo ser o melhor irei trilhar meu caminho e
tomar minhas decisões. Quando me acho apto para algo, ou ao menos capaz de,
decido por fazer. Um exemplo disso é a profissão, aquele que não tem
habilidades lógico-matemáticas não escolherá, ao menos não deveria, ser programador
de computadores ou engenheiro mecânico, como aquele que não tem suporte para
lidar com problemas humanos e dilemas existenciais não escolherá ser psicólogo.
Isso tudo é revelado por nós, nos mostramos e permitimos que as pessoas nos
vejam. Aos poucos vamos criando nossa marca, nossa pegada, e somos
identificados pela nossa personalidade, modo de ser e ver o mundo. Nossos
posicionamentos ou omissões (que já é um posicionamento) revelam as opções que
vamos fazendo e aquilo que decidimos mostrar sobre nós. Mas isso não basta,
pois já dizia Paulo apóstolo, “não faço o bem que quero e faço o mal que não
quero”, revelando dessa forma que nem sempre conseguimos mostrar aquilo que
realmente somos e pensamos, as contingencias da vida muitas vezes nos impelem a
agir de modo a trair nossa própria compreensão. Como identificar se minha ação
corresponde ao que penso sobre mim? Aqui penso entrar o terceiro aspecto:
Eu sou aquilo que os outros percebem de mim: permitir que outros
digam a nós aquilo que percebem de nós me parece ser uma atitude com vistas à
maturidade. Aquele que não se dispõe a ouvir uma crítica, uma sugestão ou uma
simples observação sobre si mesmo me parece não querer ver-se plenamente como
é. Ou melhor, sabe que tem limites mas não quer vê-los, ou, ainda, vive a falsa
modéstia de não querer ser elogiado por aquilo de bom que realiza. Quem sabe
você já tenha conhecido alguém que recebeu muitos elogios a respeito de um
trabalho desenvolvido, mas quando ouviu uma crítica pequena tudo o que
realizara de bom caiu por terra e essa pessoa revoltou-se ou deprimiu-se diante
da crítica. Porém, me parece, sou também aquilo que os outros veem de mim e
essa dimensão é fundamental para equilibrar as outras duas. A relação limita
meu agir e me leva a melhorar aquilo que sou, mas isso só é possível para
aqueles que se dispõe a buscar ser melhores.
Por fim, creio que minha visão de
mim e do mundo vão determinando as decisões que vou tomando em minha vida. Vou
me constituindo enquanto pessoa na relação com os demais e sou responsável
pelas decisões que tomo. Nada adianta culpar o mundo pelos resultados que
obtenho em minha vida uma vez que posso decidir sempre diante de meu agir e as
decisões são motivadas por aquilo que compreendo de mim e do mundo. Eu sou
autor e construtor de minha existência e não há maior responsável por quem sou
do que eu mesmo. Pensemos nisso.