Seguindo nossa série sobre política,
hoje vamos dar um salto com relação a história, iremos para o ano de 1469, ano
de nascimento do grande filósofo político Nicolau Maquiavel. Para compreender a
importância dessa personalidade na filosofia política precisamos compreender o
contexto no qual ele estava inserido. No âmbito social haviam os reis, os
religiosos, os grandes proprietários de terras, os artesãos, os agricultores e
os pobres (em linhas bem gerais). Os três primeiros tinham uma vida excelente,
os demais eram os excluídos da sociedade e responsáveis por manter as regalias,
principalmente dos reis. A política e a religião ainda estavam misturadas, ser
papa era mais um cargo político do que religioso, por exemplo.
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Estátua de Nicolau Maquiavel |
Nesse contexto de desigualdade e
de constante luta por poder surge Maquiavel e sua astucia política. Certamente
você já ouviu a expressão “aquela pessoa foi maquiavélica”, referindo-se a algo
negativo, especialmente a traição ou malandragem para enganar o outro. Nestas
horas Maquiavel se retorce na sepultura. O ideal maquiavélico de política, ao contrário
do que o senso comum apresenta, está ligado a um realismo e a busca por uma
sociedade justa e humana. Ele apresenta a ideia do “dever ser” para o estado, a
isso chamamos de realismo. Para o autor “os fins justificam os meios”, mas não
é qualquer fim, e sim aquele que vá gerar um benefício para o maior número de
pessoas, ele têm como modelo de estado da república romana. Entende que o homem
não é bom nem mau, mas tende a ser mau, no sentido de que tem em si o egoísmo,
assim o príncipe não deve confiar em pessoas que se apresentam muito boas,
pois, na maioria dos casos, elas se usam da falsidade para obter benefícios
para si.
O governante deve ser, ao mesmo
tempo, amado e temido – amado pelo povo, temido pelos inimigos – deve buscar a
justiça e cultivar as virtudes, deve ter um caráter bem formado, assim não se
deixará levar nem pela sorte, nem pelas ofertas imorais que lhe surgirem. Sua
principal obra é “O príncipe” (escrito em 1513 e publicado em 1531) apresenta
como objetivo se ater na verdade efetiva das coisas, isto é, ver a realidade
como é e trabalhar para chegar a um ideal, sem se prender, igualmente, só no
ideal que se busca, segundo o autor quem não vive o realismo acaba por
construir a própria ruína.
Maquiavel se fez importante na
filosofia política pois rompeu com a ideia de que a política e as outras áreas
são a mesma coisa, assim ele dá à política um caráter e importância própria
separando a mesma, principalmente, da religião, busca os princípios e as
virtudes e apresenta uma metodologia para o agir do governante. Certamente ao
ler as obras perceberemos algumas coisas que não cabem ao nosso tempo, mas no
contexto em que estava inserido é perfeitamente compreensível.
Creio que com Maquiavel, nesta
breve e muito sucinta apresentação, percebemos a importância das virtudes, a
busca pela realidade e a constante vigilância para com aquilo que somos e quais
nossos reais interesses e a importância de cada instituição da sociedade
contribuir, sem confundir, para uma sociedade humana e fraterna. Infelizmente
muitos dos que conhecem a filosofia política de Maquiavel acabam por pratica-la
do modo inverso ao desejo do autor, tanto é verdade que, como já citei, ao
falar em maquiavélico lembramos de algo negativo. Que possamos aprender com
Maquiavel a sermos astutos ao praticar o bem e espertos para vermos com
realismo aquilo que nos cerca.
Altemir Schwarz
Educador - Filosofia e Ensino Religioso